
Quando pensamos em foguetes, logo imaginamos naves espaciais cruzando o céu ou astronautas pisando na Lua. Mas você sabia que a história do foguete começou há mais de mil anos, com experimentos simples envolvendo pólvora? Neste artigo, vamos explorar como essa invenção revolucionária evoluiu, desde suas origens na China até os dias atuais, com detalhes sobre os principais personagens, tecnologias, projetos de foguetes, combustíveis e marcos históricos. Prepare-se para uma viagem pelo tempo e pelo espaço!
As Origens do Foguete: O Poder da Pólvora na China Antiga
A história do foguete começa no século IX, na China, durante a Dinastia Tang. Os chineses descobriram pólvora, uma mistura de salitre (nitrato de potássio), enxofre e carvão, inicialmente usada para fins medicinais e alquímicos. No entanto, logo perceberam que essa mistura explodiu quando inflamada, abrindo caminho para usos militares.
Por volta do século XIII, durante a Dinastia Song, os chineses começaram a usar a pólvora para criar armas rudimentares, como flechas de fogo. Eles encheram tubos de bambu com pólvora, acenderam um pavio e lançaram essas “flechas” contra inimigos. Essas armas eram imprecisas, mas marcaram o nascimento dos primeiros foguetes da história. Os registros indicam que os chineses também obtiveram esses dispositivos em batalhas contra os mongóis, como na defesa da cidade de Kaifeng, em 1232.
Além do uso militar, os foguetes chineses para celebrações. Eles encheram pequenos tubos com pólvora e os lançaram ao céu, criando novidades coloridas — os primeiros fogos de artifício! Essa tradição se manteve pelo mundo e sobreviveu até hoje.
A Expansão do Conhecimento: Foguetes Chegam ao Ocidente
Com o passar dos séculos, o conhecimento sobre a pólvora e os foguetes se deixou pela Ásia e chegou ao Oriente Médio e à Europa, graças às rotas comerciais e às guerras. No século XIII, os árabes adaptaram as técnicas chinesas para criar suas próprias armas propelidas por pólvora. Na Europa, o uso militar dos foguetes ganhou força entre os séculos XV e XVIII, especialmente na Inglaterra e na França.
Um dos pioneiros no uso de foguetes na Europa foi o oficial militar britânico Sir William Congreve. No início do século XIX, ele desenvolveu os “foguetes Congreve”, que eram armas mais precisas e poderosas do que as versões anteriores. Esses foguetes usavam tubos de metal, em vez de bambu, e podiam carregar explosivos a longas distâncias. Eles foram usados com sucesso nas Guerras Napoleônicas e até inspiraram a menção em “The Star-Spangled Banner”, o hino dos Estados Unidos, que descreve “o clarão vermelho dos foguetes” durante a Guerra de 1812.
A Ciência Entra em Cena: Foguetes Como Ferramentas de Exploração
Enquanto os foguetes militares dominavam o cenário, os cientistas criaram usos imaginários além da guerra. No final do século XIX e início do século XX, o estudo dos foguetes ganhou uma abordagem mais teórica e científica. Três nomes se destacam nesse período: Konstantin Tsiolkovsky, Robert Goddard e Hermann Oberth.
Konstantin Tsiolkovsky: O Pai Teórico dos Foguetes
O russo Konstantin Tsiolkovsky (1857–1935) foi o primeiro a fazer com que foguetes conseguissem alcançar o espaço. Ele publicou, em 1903, um artigo revolucionário chamado “A Exploração do Espaço Cósmico por Meios de Reação”. Tsiolkovsky desenvolveu a missão do foguete, uma fórmula matemática que descreve como a velocidade de um foguete depende da velocidade dos gases expelidos e da massa do combustível. Ele também sugeriu o uso de combustíveis líquidos e o conceito de foguetes de múltiplos estágios (em que partes do foguete se desprendem para reduzir peso). Embora nunca tenha construído um foguete, suas ideias foram a base para tudo o que veio depois.
Robert Goddard: O Pioneiro Prático
Enquanto Tsiolkovsky teorizava, o americano Robert Goddard (1882–1945) colocava as ideias na prática. Em 16 de março de 1926, Goddard lançou o primeiro foguete movido a combustível líquido da história, em Auburn, Massachusetts. O foguete, chamado Nell, carregava uma mistura de gasolina e oxigênio líquido, subiu apenas 12 metros e voou por 2,5 segundos, mas foi um marco histórico. Goddard também desenvolveu sistemas de controle, como giroscópios, e testou paraquedas para recuperar seus foguetes. Apesar de ter sido ridicularizado na época (o jornal The New York Times publicou um artigo contando que foguetes não funcionavam no espaço por falta de ar), Goddard é hoje reconhecido como o “pai da moderna tecnologia de foguetes”.
Hermann Oberth: O Divulgador das Ideias
O alemão Hermann Oberth (1894–1989) também contribuiu para a teoria dos foguetes espaciais. Em 1923, ele publicou o livro O Foguete para os Espaços Planetários , onde detalhava como os foguetes poderiam superar a gravidade terrestre e alcançar órbitas. Oberth também popularizou a ideia de viagens espaciais, inspirando uma geração de engenheiros e cientistas, incluindo Wernher von Braun, de quem falaremos mais adiante.
A Estrutura dos Foguetes: Estágios e Combustíveis que os Impulsionam
Um aspecto fascinante dos foguetes modernos é sua estrutura dividida em estágios e os tipos de combustíveis que os fazem voar. Vamos entender esses conceitos de forma simples.

Os Estágios dos Foguetes: Por que Eles se Dividem?
Você já percebeu que, durante um lançamento, partes de um foguete se soltaram e caíram no caminho? Isso acontece porque os foguetes espaciais são construídos em melhorias, uma ideia proposta por Tsiolkovsky e amplamente utilizada hoje. Cada estágio tem seus próprios motores e tanques de combustível, funcionando como um “empurrão” adicional para vencer a gravidade.
- Primeiro Estágio: É a base do foguete, geralmente o maior e mais pesado. Ele carrega os motores mais potentes e a maior parte do combustível, responsável por tirar o foguete do chão e atravessar a atmosfera densa da Terra. Quando o combustível desse estágio termina (geralmente em poucos minutos), ele se desprende e cai, muitas vezes no oceano ou em áreas desabitadas.
- Segundo Estágio: Com o primeiro estágio descartado, o segundo entra em ação. Ele é mais leve e leva a carga (como satélites ou cápsulas espaciais) a altitudes maiores, muitas vezes colocando-a na órbita terrestre baixa. Esta etapa também pode se desprender ou permanecer no espaço como lixo espacial.
- Terceiro Estágio (e Além): Em missões mais complexas, como viagens à Lua ou a outros planetas, pode haver um terceiro estágio ou até mais. Esses estágios são menores e ajustam a trajetória ou dão o impulso final para escapar completamente da gravidade terrestre.
Essa divisão em estágios aumenta a eficiência do foguete, já que ele não precisa carregar peso desnecessário após a combustão do combustível de cada fase. Um exemplo famoso é o Saturn V, usado na missão Apollo 11: ele tinha três estágios e pesava mais de 2.900 toneladas na decolagem, mas apenas uma pequena cápsula no topo chegou à Lua.
Os Principais Combustíveis dos Foguetes
Os combustíveis são o coração de um foguete, fornecendo energia para vencer a gravidade e alcançar velocidades enormes (cerca de 28.000 km/h para entrar em órbita). Existem dois tipos principais de combustíveis: sólidos e líquidos, cada um com suas vantagens.
- Combustíveis Sólidos: São os mais antigos, usados desde os foguetes chineses feitos de pólvora. Hoje, eles consistem em uma mistura sólida de combustível e oxidante, como perclorato de amônio e pó de alumínio. Esses combustíveis são convenientes, fáceis de armazenar e fornecer um empuxo imediato, tornando-os ideais para boosters (propulsores laterais), como os usados no ônibus espacial. No entanto, uma vez acesos, não podem ser desligados ou ajustados, o que limita o seu controle.
- Combustíveis Líquidos: Introduzidos por Robert Goddard, são mais complexos, mas oferecem maior controle e eficiência. Eles geralmente contêm um combustível líquido (como querosene, hidrogênio líquido ou metano) com um oxidante (como oxigênio líquido). O foguete V-2 usava etanol e oxigênio líquido, enquanto o Saturn V utilizava querosene no primeiro estágio e hidrogênio líquido nos projetos superiores. Os combustíveis líquidos serão ajustados durante o voo, permitindo maior precisão, mas desabilitando tanques refrigerados e sistemas complexos para lidar com temperaturas extremamente baixas (a oxigênio líquido, por exemplo, precisa ser armazenado a -183°C).
- Combustíveis Criogênicos: Um tipo especial de líquido combustível, os criogênicos usam substâncias mantidas em temperaturas muito baixas, como hidrogênio líquido e oxigênio líquido. Eles são altamente eficientes e usados em foguetes modernos, como o Falcon 9 da SpaceX (que usa querosene e oxigênio líquido) e o Space Launch System (SLS) da NASA (que usa hidrogênio líquido).
- Combustíveis Hipergólicos: Outra categoria de combustíveis líquidos, os hipergólicos, como a hidrazina e o tetróxido de nitrogênio, inflamam-se espontaneamente ao entrar em contato, sem necessidade de ignição. Eles são usados em manobras que não precisam de espaço, como ajustes de órbita ou pousos suaves, mas são altamente tóxicos.
Cada tipo de combustível e estágio é escolhido com base na missão. Por exemplo, missões simples podem usar apenas combustíveis sólidos, enquanto as viagens interplanetárias desativaram a precisão e a potência dos combustíveis líquidos e criogênicos.
A Era Moderna: Foguetes na Segunda Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial (1939–1945) acelerou o desenvolvimento dos foguetes como armas. O maior avanço veio da Alemanha nazista, que criou o V-2, o primeiro míssil balístico de longo alcance. Desenvolvido pelo engenheiro Wernher von Braun, o V-2 carregava combustível líquido (etanol e oxigênio líquido) e poderia atingir alvos a mais de 300 milhas de distância. Embora tenha sido usado para atacar cidades como Londres, causando milhares de mortes, o V-2 também representou um salto tecnológico. Ele foi o primeiro objeto feito pelo homem a cruzar a barreira do espaço, atingindo altitudes superiores a 100 quilômetros.
Após a guerra, os Estados Unidos e a União Soviética capturaram cientistas alemães e tecnologias do programa V-2. Von Braun foi levado para os EUA, onde trabalhou na NASA, enquanto os soviéticos também aproveitaram o conhecimento para iniciar seus próprios programas espaciais.
A Corrida Espacial: Foguetes Levam o Homem ao Espaço
A Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética transformaram os foguetes em ferramentas de conquista espacial. O lançamento do satélite soviético Sputnik 1 , em 4 de outubro de 1957, marcou o início da Corrida Espacial. O Sputnik foi colocado na órbita por um foguete R-7, projetado pelo engenheiro Sergei Korolev. Esse feito chocou o mundo e colocou os soviéticos à frente da exploração espacial.
Os Estados Unidos responderam rapidamente. Em 1958, a NASA foi criada, e Wernher von Braun liderou o desenvolvimento do foguete Saturn V, que se tornaria o mais poderoso já construído. Enquanto isso, os soviéticos continuavam avançando: em 12 de abril de 1961, o cosmonauta Yuri Gagarin se tornou o primeiro humano a ir ao espaço, a bordo da nave Vostok 1, lançado por um foguete Vostok.
O ápice da Corrida Espacial aconteceu em 20 de julho de 1969, quando a missão Apollo 11, impulsionada pelo Saturn V, levou os astronautas americanos Neil Armstrong e Buzz Aldrin à Lua. O momento em que Armstrong disse “um pequeno passo para o homem, um salto gigante para a humanidade” ficou gravado na história.
Foguetes Hoje: Novas Fronteiras e Inovações

Hoje, os foguetes continuam a evoluir. Empresas privadas, como a SpaceX de Elon Musk, revolucionaram o setor ao criar foguetes reutilizáveis, como o Falcon 9, que pousa verticalmente após lançar cargas ao espaço. A SpaceX também planeja usar seu foguete gigante Starship para colonizar Marte. Enquanto isso, a NASA desenvolve o Sistema de Lançamento Espacial (SLS) para missões como o programa Artemis, que pretende levar humanos de volta à Lua na década de 2020.
Além disso, os foguetes modernos utilizam tecnologias avançadas, como combustíveis criogênicos (hidrogênio e oxigênio líquido) e sistemas de navegação automática. Eles lançaram satélites para comunicação, observação climática e até telescópios espaciais, como o James Webb, que nos ajuda a entender o universo.
Conclusão: O Legado dos Foguetes
Dos tubos de bambu recheados de pólvora na China antiga aos monstros tecnológicos que nos levam ao espaço, os foguetes transformaram o mundo. Eles vieram como armas, viraram ferramentas científicas e hoje nos conectamos ao cosmos. Cada lançamento é um lembrete do quanto a curiosidade humana pode alcançar. Então, na próxima vez que você ouvir falar de um foguete decolando, lembre-se: ele carrega não só tecnologia, mas também milênios de história e sonhos.
